Sabia que tinha de seguir em frente, por mais difícil que fosse... E era muito! Ele e a sua melhor amiga agora andavam sempre em brincadeiras indiscretas, e eu, sempre a tentar não olhar, por muito que isso me custasse... Claro que custou, mas fui-me refugiando em Dylan. Ele era um bom ponto de abrigo, sentia-me segura nos seus abraços, e aos poucos a confiança com ele foi aumentando, e fui-me esquecendo de Jeff. Claro que sempre que olhava para ele me sentia mal e só me apetecia correr para um sítio onde pudesse chorar à vontade, mas era nesses momentos que Dylan me conseguia por um sorriso na cara!
À medida que os dias, semanas iam passando, o que eu sentia por Jeff ia-se apagando, mas nunca por completo, o que sentia por ele era como uma dor. Uma dor que apesar de não ser insuportável, era constante. Quando estava distraída, não dava por ela, mas assim que algo me fazia lembrar-la, voltava a senti-la com muita intensidade! Era assim que era o meu amor por ele. Quando estava com Dylan e Amy, não me lembrava dele, mas assim que olhava para ele, assim que via o seu sorriso para a melhor amiga, era como se uma faca me atingisse, e quase que não conseguia respirar com a dor, mas obrigava-me a sorrir, era a única coisa que podia fazer para o atingir!
Para melhorar as coisas, a nossa directora de turma disse que quem tinha recebido os estudantes do estrangeiro no ano anterior, ia este ano para o estrangeiro, e eu, Dylan, Amy e outro rapaz da nossa turma fomos os escolhidos! Claro que eu fiquei super feliz, uma semana no estrangeiro, mais precisamente Alemanha, Colónia, ia melhorar as coisas! Ia dar-me tempo para pensar noutras coisas para além de Jeff, e além disso ia com Dylan e Amy! Mas antes de ir, ainda havia a minha festa de anos...
Pedi ao meu pai para fazer uma festa pijama, e ele deixou! Não podia convidar muita gente, como era óbvio, por isso convidei Carol, Amy, Dylan e Laura. Também queria convidar Jeff, mas não tinha lata de lhe pedir, então Dylan disse que falava com ele, e dizia-lhe que precisava de companhia, visto que era o único rapaz na festa. Por um lado eu queria muito que ele fosse, mas por outro ia abrir uma ferida que tentava sarar... Mas as saudades falaram mais alto!
-Sam, tenho novidades para ti! - Dylan parecia um pouco abatido, mas mostrava um sorriso doce.
-Então? Fala logo rapaz!
-O Jeff pode ir! - Conseguia ver nos olhos dele que ele estava triste, mas que manteve o sorriso por mim...
-Mas ele quis!?
-Ele não disse que não! - Tentei esconder o entusiasmo que sentia porque sabia que isso o ia magoar, então simplesmente agradeci e fui ter com Amy a contar-lhe as novidades!
Quando chegou o dia da festa eu estava super nervosa com todos os preparativos, e para que corresse tudo bem, e entretanto acabaram por chegar os convidados, que não eram muitos, mas os suficientes para a festa! Jantaram em minha casa, e depois do jantar fomos vestir os pijamas. Os rapazes foram para o quarto do meu irmão, e as raparigas para o meu quarto. Quando acabamos sentámo-nos todas no chão, à espera que os rapazes entrassem... Eles entraram e fizeram cara de quem não percebia o que se estava a passar, pois estávamos todas sentadas, a rir do pijama de Jeff que tinha um ursinho...
Fomos jogar a verdade ou consequência, e a consequência acabou por ser pintar o Jeff com as maquilhagens que me tinham oferecido!
-Vá lá Jeff, não faças essa cara para a câmara! Estás lindo assim! - Estávamos a filmar, e a adorar a situação, já Jeff não estava a achar muita piada... O que ainda dava mais piada à coisa!
-E depois como é que eu tiro isto? Sinceramente Dylan, não as impedes de me torturarem?
-Claro que não puto, estás a ficar lindo assim!
-Calma Jeff, isso sai com água!
-De certeza Sam?
-Não! - Começámos todas a rir, e ele ficou ainda com umas trombas maiores, apesar de estar a sorrir com o olhar...
-Pronto, se calhar já chega!
-Só falta o batom! Só mais uns minutos Jeff!
-Vocês são horríveis! Mas vá, despachem-se lá!
Acabámos de o pintar, e estava um desastre total para dizer a verdade. Enquanto o pintava mantive-me o mais próximo dele que pude. Foi um daqueles momentos em que a dor veio ao de cima, mas desta vez era uma dor diferente, não era a dor que sentia quando o via rir para a melhor amiga, nem sequer era a dor que sentia quando me lembrava que já não havia nada entre nós, e que talvez parte da culpa fosse minha, era uma dor que queria sair do meu corpo, queria romper a pele e chegar a ele. Era uma dor que resultava de eu não o poder tocar. Cada vez que impedia a minha mão de entrelaçar os dedos nos seus, a dor aparecia, empurrando a minha mão para a dele. Sempre que olhava para ele e me obrigava a desviar olhar, a dor aparecia, prendendo com força os meus olhos à sua cara bem desenhada... Não era uma dor insuportável, mas era forte, e requeria muita força de vontade lutar contra ela...
-Onde é que é a casa de banho Sam?
-Ao fundo do corredor! - Mal conseguia conter a vontade que tinha de me rir.
-Isto não sai Sam! E agora?
-Calma, passa com papel, isso acaba por sair! não te preocupes que não é eterno! - Mandei-lhe o meu maior sorriso e ele respondeu-me com um semicerrar de olhos bastante expressivo, o que me fez aumentar ainda mais o sorriso.
Ele acabou por aparecer no meu quarto com a cara toda vermelha, e ainda com alguns vestígios da maquilhagem, mas nós limitámo-nos a rir e ele a revirar os olhos.
Fomos jogar ao quarto escuro, mas nenhuma das vezes aconteceu nada digno de interesse. Claro que tentava tocar-lhe algumas vezes, e por vezes ele perguntava-me quem eu era, mas não passou disso. Uma vez ele tocou-me no cabelo, mas mesmo assim confundiu-me com Laura, que, ao contrario de mim, tinha cabelo liso! Depois disso fomos para a sala jogar Playstation, e ganhei um jogo de dança contra Dylan, que estava bastante cansado e acabou por se ir deitar antes de nós.
-Sam, posso atirar água daquela garrafa que tens em cima da secretária ao Dylan?
-Por mim, mas não atires muito! E se ele se chatear fica já sabendo que a culpa não é minha!
Ela atirou um pouco da garrafa (mais do que eu tinha pensado, mas não chegava a ser uma barbaridade), depois repensou, e entornou o resto. Ficamos todos de olhos arregalados e Dylan não gostou muito da brincadeira, que estava particularmente de mau humor.
-Estás feliz Amy? - Levantou-se, tirou a camisola do pijama, e voltou a deitar-se sem dizer uma única palavra.
-Amy, qual foi a parte do "não atires muito" que a menina não percebeu?
-Opáh, ele amanhã já não se lembra! - Estávamos todos a tentar conter o riso, e acabámos por nos deitar todos na cama, que com jeitinho deu para todos muito apertadinhos, pois quando estava aberta ficava uma cama de casal, e estávamos todos deitados na horizontal. Como não havia lugar para mim, deitei-me entre Amy e Jeff, esmagando um bocado Amy, que resmungou qualquer coisa mas continuou a ouvir musica.
Jeff estava deitado de barriga para cima, e eu deitada de lado, com a cabeça debaixo do seu braço, visto que o espaço era mínimo.
-Queres ouvir?
-Claro! - Aceitei o phone que Jeff me oferecera, e ficámos os dois em silencio a ouvir música. Naquele momento era só eu e ele. A dor que antes sentia começou a diminuir, passando a ser apesar um leve formigueiro nos dedos, que não podiam tocar-lhe. Comecei a fazer escalas para acalmar os dedos no peito dele (estava à pouco tempo a aprender a tocar flauta, e escalas ajudavam a treinar a posição dos dedos)-
-Que estás a fazer? - Ele estava a olhar para os meus dedos, que faziam sempre a mesma dança vezes sem conta no peito dele.
-Oh, nada, uma coisa da flauta...
Ele não disse mais nada, mas continuei a fazer aquilo, era uma maneira de lhe tocar e ajudar a acalmar a vontade de lhe dar a mão. De vez em quando ia olhando para ele. Cada vez que os nossos olhares se tocavam sentia a esperança voltar, e por momentos pensei mesmo que tudo fosse voltar ao que era, mas não, no fundo sabia que não. Éramos crianças e não sabias como lidar um com o outro. Não havia confiança para uma relação que resultasse, e não me queria limitar a namorar por mensagens. Talvez quem sabe, um dia, quando fossemos mais velhos, a nossa história continuasse... Mas naquele momento, não haviam promessas para o futuro, apenas nós dois. Aproveitei os últimos momentos que ia ter com ele, porque sabia que depois disso, apenas restaria a dor adormecida, que nunca ia desaparecer por completo, e a esperança de que algum dia, o sonho se tornasse realidade...